UM CHINÊS EUNUCO QUE FEZ HISTÓRIA:
O ADMIRÁVEL ALMIRANTE ZHENG HE!
Visite também os meus seguintes sites:
rig veda americanus - hino à mãe dos deuses
sancto sebastiano (poema/tradução de rilke)
karl-maria kertbeny e o termo homossexual
gay history (visual histórico glbtt)
panos da costa - mama áfrica
o emílio de waly salomão
cronologia gay brasil
netzahualcoyótl
gladiadoras
an dich!
ZHENG HE
No velho Oriente, como em outras partes do mundo, povos subjugados em tempos de guerra muitas vezes acabavam no ról dos escravos. Seja servindo em cortes imperiais em meio à panos e finuras ou mesmo como servos integrados nas economias urbanas ou em empreendimentos agrícolas mais brutos no interior, no campo.
Na China, não só na velha China mas também em outras partes do Oriente, existiu em certas épocas a prática de se pegar meninos que eram espólio de guerra e os castrar. Assim eles eram levados para servir nas altas cortes da terra, entre as muitas mulheres dos poderosos políticos.
Pois bem, isso ocorreu com um certo garoto, muçulmano de casa, pertencente ao grupo étnico Hui, um grupo ainda existente hoje em dia no mesmo local, que hoje se chama Província de Hunnan, localizada na região sudoeste da China (aliás, onde habitam vários grupos étnico-linguísticos distintos). Seu nome passou a ser Zheng He na corte imperial chinesa, onde foi ganhando maiores responsabilidades, chegando a postos de burocrata e mais...
Zhen He viveu entre 1371 e 1433.
Vale notar, de passagem, para evitar confusão, que existem um certo número de variações de transliteração do nome Zhen He, este sendo no idioma chinês tradicional representado pelos caractéres do alfabeto chinês como 鄭和 mas que fica, no chinês simplificado, assim: 郑和. Ainda, no sistema de escrita piniin hanyu, seu nome aparece assim: Zhèng Hé. E na escrita wade-giles, assim: Cheng Ho. Finalmente, seu nome de nascimento era: 馬三寶 / 马三宝, o qual no idioma árabe, lembrando que ele era muçulmão, era Hajji Mahmud.
Zhen He acabou subindo tanto de estatus na corte imperial até chegar ao posto (algo 'improvável' em sua época, como apontam freqüentemente os/as historiadores/as) de almirante de uma imponente frota, de uma armada marítima que foi, subseqüentemente, conquistar vastos mares no mundo, chegando pelo menos até em África, de onde levou vários animais exóticos, inclusive uma girafa. Sendo que existe, entre outros documentos, uma pintura em pano de seda, retratando a chegada desse animal na corte imperial chinesa - um evento que causou grande alvoroço na elite da corte da época... acontece que a girafa, como animal vivo, era tida como um elemento muito positivo no entendimento e esquadramento da mitologia popular chinesa da época. Ainda mais, tendo Zheng He e sua frota 'possivelmente' navegado muito mais além da África, aliás, conforme bem o insiste o pesquisador e almirante inglês aposentado, Gavin Menzies, que escreveu (em inglês) o livro de quase setecentas páginas: "1421 - The Year China Discovered América", ou seja, numa corrida tradução minha: "Mil quatrocentos e vinte um - o ano em que a China descobriu a América" (publicado pela primeira vez em 2002 no Reino Unido por Transworld Publishers e, depois, no Estados Unidos em 2003 por William Morrow/Harper Collings Publishers), onde o autor britânico tenta provar com grandes detalhes que Zhen He teria de fato vasculhado também outros mares muito além das beiradas do continente africano, tendo de fato alcançado até mesmo as zonas costeiras da América e subido ela pra cima e pra baixo, de cabo à rabo e ido além...
Como sabemos, atualmente (2006) a economia da China está crescendo em rítmo aceleradíssimo e as previsões são de que isso irá continuar assim, pelo menos por um bom tempo. Como conseqüência emerge aquele desejo natural dentre as cabeças pensantes e vaidadosas da inteligentzia chinesa de receber mais e mais reconhecimentos por sua grandesa presente e histórica; e não sómente por parte de nações vizinhas mas, ainda mais importantemente, da comunidade internacional das nações...
Então, a gente vai ouvir mais e mais histórias como esta de Zhen He provindas da China e mesmo de outras partes do mundo igualmente em ascenção. Mas é preciso manter as anteninhas bem ligadas para ver direito qual serão as versões das histórias 'dos Zhen Hes' que irão ficar sendo reconstruidas por aí internacionalmente.
Em resumo, é importante não deixar que histórias como a de Zheng He sejam relatadas sem que se mencione, explícitamente, digamos no caso do celebrado Almirante Chinês, sobre a sua situação de 'castrato'. Em outras, informar é diminuir a ignorância!
Ocorre que em nossa cultura se fazem coisas do tipo, vamos dizer, se criar uma entrada enciclopédica sobre a literatura e a vida do escritor gay irlandês Oscar Wilde, por exemplo, e no processo esquivar-se totalmente de mencionar a sua homossexualidade.
Parece incrível, mas isso realmente acontece. Sim porque a grande meta da classe dominante parece ser, persistentemente, a de empurrar as minorias em seu meio, especialmente aos/às gays, aos/às diferentes, aos/às questionadores/as incomodativos/as... ao perfeito anonimato; ou de ficar relegando a homossexualidade somente as pessoas pertencentes às castas marginalizadas da população.
Poderiamos dizer que isso é mais uma forma de 'imperialismo' - mesmo que seja resultado de matraqueadas de bufões nacionais, de irmãos internos... Ou seja, é mais uma forma nojenta de 'branqueamento', de um 'heterossexualisamento', de uma 'heterossexualização' ou de uma homogeinização da nossa cultura e população.
Inicialmente, ao reconhecer a verdade a gente se entristece, mas logo depois vem a raiva passeando como uma brisa leve de verão, é aquela vizinha bem próxima avisando... Daí sobe a conscientização na mente da gente - daí ninguém segura mais...
-Paul
Paul Beppler
Riolingo.com
Seattle, Washington
EUA
ATENÇÃO:
Estes escritos se encontram sob a proteção da Licença da Creative Commons. This work is licensed under a Creative Commons License.
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sancto sebastiano (poema/tradução de rilke)
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gay history (visual histórico glbtt)
panos da costa - mama áfrica
o emílio de waly salomão
cronologia gay brasil
netzahualcoyótl
gladiadoras
an dich!
ZHENG HE
No velho Oriente, como em outras partes do mundo, povos subjugados em tempos de guerra muitas vezes acabavam no ról dos escravos. Seja servindo em cortes imperiais em meio à panos e finuras ou mesmo como servos integrados nas economias urbanas ou em empreendimentos agrícolas mais brutos no interior, no campo.
Na China, não só na velha China mas também em outras partes do Oriente, existiu em certas épocas a prática de se pegar meninos que eram espólio de guerra e os castrar. Assim eles eram levados para servir nas altas cortes da terra, entre as muitas mulheres dos poderosos políticos.
Pois bem, isso ocorreu com um certo garoto, muçulmano de casa, pertencente ao grupo étnico Hui, um grupo ainda existente hoje em dia no mesmo local, que hoje se chama Província de Hunnan, localizada na região sudoeste da China (aliás, onde habitam vários grupos étnico-linguísticos distintos). Seu nome passou a ser Zheng He na corte imperial chinesa, onde foi ganhando maiores responsabilidades, chegando a postos de burocrata e mais...
Zhen He viveu entre 1371 e 1433.
Vale notar, de passagem, para evitar confusão, que existem um certo número de variações de transliteração do nome Zhen He, este sendo no idioma chinês tradicional representado pelos caractéres do alfabeto chinês como 鄭和 mas que fica, no chinês simplificado, assim: 郑和. Ainda, no sistema de escrita piniin hanyu, seu nome aparece assim: Zhèng Hé. E na escrita wade-giles, assim: Cheng Ho. Finalmente, seu nome de nascimento era: 馬三寶 / 马三宝, o qual no idioma árabe, lembrando que ele era muçulmão, era Hajji Mahmud.
Zhen He acabou subindo tanto de estatus na corte imperial até chegar ao posto (algo 'improvável' em sua época, como apontam freqüentemente os/as historiadores/as) de almirante de uma imponente frota, de uma armada marítima que foi, subseqüentemente, conquistar vastos mares no mundo, chegando pelo menos até em África, de onde levou vários animais exóticos, inclusive uma girafa. Sendo que existe, entre outros documentos, uma pintura em pano de seda, retratando a chegada desse animal na corte imperial chinesa - um evento que causou grande alvoroço na elite da corte da época... acontece que a girafa, como animal vivo, era tida como um elemento muito positivo no entendimento e esquadramento da mitologia popular chinesa da época. Ainda mais, tendo Zheng He e sua frota 'possivelmente' navegado muito mais além da África, aliás, conforme bem o insiste o pesquisador e almirante inglês aposentado, Gavin Menzies, que escreveu (em inglês) o livro de quase setecentas páginas: "1421 - The Year China Discovered América", ou seja, numa corrida tradução minha: "Mil quatrocentos e vinte um - o ano em que a China descobriu a América" (publicado pela primeira vez em 2002 no Reino Unido por Transworld Publishers e, depois, no Estados Unidos em 2003 por William Morrow/Harper Collings Publishers), onde o autor britânico tenta provar com grandes detalhes que Zhen He teria de fato vasculhado também outros mares muito além das beiradas do continente africano, tendo de fato alcançado até mesmo as zonas costeiras da América e subido ela pra cima e pra baixo, de cabo à rabo e ido além...
Como sabemos, atualmente (2006) a economia da China está crescendo em rítmo aceleradíssimo e as previsões são de que isso irá continuar assim, pelo menos por um bom tempo. Como conseqüência emerge aquele desejo natural dentre as cabeças pensantes e vaidadosas da inteligentzia chinesa de receber mais e mais reconhecimentos por sua grandesa presente e histórica; e não sómente por parte de nações vizinhas mas, ainda mais importantemente, da comunidade internacional das nações...
Então, a gente vai ouvir mais e mais histórias como esta de Zhen He provindas da China e mesmo de outras partes do mundo igualmente em ascenção. Mas é preciso manter as anteninhas bem ligadas para ver direito qual serão as versões das histórias 'dos Zhen Hes' que irão ficar sendo reconstruidas por aí internacionalmente.
Em resumo, é importante não deixar que histórias como a de Zheng He sejam relatadas sem que se mencione, explícitamente, digamos no caso do celebrado Almirante Chinês, sobre a sua situação de 'castrato'. Em outras, informar é diminuir a ignorância!
Ocorre que em nossa cultura se fazem coisas do tipo, vamos dizer, se criar uma entrada enciclopédica sobre a literatura e a vida do escritor gay irlandês Oscar Wilde, por exemplo, e no processo esquivar-se totalmente de mencionar a sua homossexualidade.
Parece incrível, mas isso realmente acontece. Sim porque a grande meta da classe dominante parece ser, persistentemente, a de empurrar as minorias em seu meio, especialmente aos/às gays, aos/às diferentes, aos/às questionadores/as incomodativos/as... ao perfeito anonimato; ou de ficar relegando a homossexualidade somente as pessoas pertencentes às castas marginalizadas da população.
Poderiamos dizer que isso é mais uma forma de 'imperialismo' - mesmo que seja resultado de matraqueadas de bufões nacionais, de irmãos internos... Ou seja, é mais uma forma nojenta de 'branqueamento', de um 'heterossexualisamento', de uma 'heterossexualização' ou de uma homogeinização da nossa cultura e população.
Inicialmente, ao reconhecer a verdade a gente se entristece, mas logo depois vem a raiva passeando como uma brisa leve de verão, é aquela vizinha bem próxima avisando... Daí sobe a conscientização na mente da gente - daí ninguém segura mais...
-Paul
Paul Beppler
Riolingo.com
Seattle, Washington
EUA
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